quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Mambrina

 

A maioria das pessoas nem imagina que a famosa manteiga “Alepo” – uma das melhores do mundo – é preparada com o creme do leite da cabra Mambrina . Além do grande porte, a Mambrina tem o leite. Este é um formidável patrimônio genético brasileiro que pode alicerçar a pecuária de grande porte do futuro. image

Origem O grupamento da cabra Síria Montanhesa é comum na Síria, Líbano, Jordânia e nordeste de Israel. Recebe muitos outros nomes locais, como: Preta Beduína, Djelab, Mamber, Negra da Síria, Palestina, Montanhesa , etc. A altura é de 70–80 cm, podendo chegar a 75–90 cm. Produz carne, leite e pêlos. A Síria e a Palestina mantêm rebanhos leiteiros da variedade Mamber . A variedade Samar , do noroeste da Síria, chegou a produzir 9 litros !

Segundo citação de Crepin e Egaña (in Castro, p. 194), a Mambrina apresenta orelhas que podem chegar a 40- 45 cm . É uma grande leiteira, de extrema rusticidade, a ponto de poder concorrer, mesmo no Egito, com a Nubiana . Pode apresentar pêlos compridos, chegando a 20- 25 cm – dando lucros para quem tem mercado para eles. Esta cabra grande de nariz romano, orelha pendente, de cor marrom-avermelhada, é conhecida na Síria há cerca de meio século, embora alguns estudiosos afirmem que a Mambrina existe há séculos.

Há pelo menos duas grandes variedades de Mambrina : 1) a Samar , que é a variedade mais antiga, procedente da zona compreendida entre Mosal e Bagdad, nas ribeiras do Tigre: 2) a Damasquina , ou Damasco , na região de Damasco e, em cujos arredores é mais encontrada. Existem muitas subvariedades.

Para melhorar o grupamento da Mambrina , foi levado um lote da variedade Damasco para um projeto de criação em Chipre, desde 1970, localizado próximo a Nicósia e Pafos. O projeto é administrado pelo Ministério de Recursos Animais que vem multiplicando as fazendas particulares receptoras de animais superiores. Uma parte dos animais é exportada também para Síria e outros paises no Oriente Médio.

Com subsídios para estimular os produtores e extinguir as cabras locais, o governo tornou a Damasco bastante popular em Chipre. Há uma desvantagem, todavia: a Damasco exige boa alimentação para manter sua elevada produtividade. A média, depois da desmama, é de 500- 550 kg no rebanho de elite do governo.

No Brasil - Foi introduzida no Brasil, no final do século XIX por meio da empresa Hagenbeck. Poucos animais ficaram registrados em fotografias, exibindo longos pêlos e coloração negra, ainda em poder da família Lutterbach. Eram animais da variedade Síria Montanhesa . Teria o pioneiro José Júlio Lutterbach alguma intenção de seleção? Talvez sim, mas – com o passar do tempo – a Mambrina desapareceu do Rio de Janeiro.

Um fato memorável foi a importação da década de 1930, pelo então governador Landulfo Alves, uma das maiores inteligências no setor agrícola baiano. Ele entendia de ecologia. Trouxe os bovinos Schwyz e Guzerá, o caprino Mambrina e o ovino Bergamácio - afirma Emerson Figueiredo Simões (Fazenda Terra do Sol, Feira de Santana , BA)

Na Bahia, portanto, já havia muito Mambrina em 1940 e ali se tornou um patrimônio genético do Estado. De fato, o Mambrina é uma riqueza na Bahia, com dezenas de criadores entusiasmados e centenas de exploradores. Afinal, o Mambrina garante grande porte, boa aptidão leiteira nas fêmeas, muita rusticidade e fácil manejo. O Mambrina garante tudo que é preciso numa moderna criação de caprinos de dupla aptidão.

Modernamente, o Mambrina da Bahia já vem sendo exportado para São Paulo, Goiás, Mato Grosso e vários Estados nordestinos.

Segundo Benedito Vasconcelos (2000, p. 63) a Mambrina também é chamada de Indiana ou mesmo de Zebu , talvez devido às grandes orelhas. As cabras são boas leiteiras e produtoras de carne e pele, chegando a 2- 4 kg de leite/dia com 4% de gordura, com longo período de lactação. É rústica e própria para climas quentes. Sua produção de leite, se selecionada, pode ser pouco menor do que a das raças melhoradas européias como Saanen, Toggenburg e Parda Alpina . O leite é saboroso, com alto teor de gordura e não possui odor hircino. Benedito Vasconcelos afirma que “a Mambrina leiteira é a única raça tropical com tal aptidão, não cruzada ainda com homóloga para estimular a função lactígena. Isso demonstra que a raça evoluiu, no Brasil, estando hoje superior ao Mambrina da terra de origem, a Síria”.

Cruzado com o Anglo-Nubiano e cabras comuns produziu a raça Jacuípe que poderá alavancar a criação de animais de grande porte em todo país (Ver raça Jacuípe).

O Mambrina , portanto, é uma realidade de fácil exploração comercial.

Discussão – Existem dois tipos de Mambrina , o de pêlo curto e o de pêlo longo. Não se sabe qual o melhor, pois há famílias grandes e leiteiras em ambos. A escolha caberá ao criador, de acordo com as condições de sua propriedade.

Hoje existem dois núcleos bem distintos: o da Bahia e o do Rio Grande do Norte. Daí que têm surgido animais com chifres pouco torcidos, até arredondados no lugar dos tradicionais chifres chatos, retorcidos e trefilados. Também têm surgido animais com diferente direcionamento dos chifres. Quanto às orelhas sempre existiu uma enorme discussão, uma vez que muitos indivíduos trazem uma remota lembrança da raça Jamnapari indiana. O Mambrina , por exigência do padrão racial, deveria apresentar orelhas pendentes, em forma de folha seca, muito ramificada e bem espalmada. Cabe lembrar, no entanto, que na terra de origem são muitas as variedades, apresentando diferenças substanciais na forma das orelhas. Por que o Brasil teria que ser tão exigente?

Na verdade, existe muito pouco Mambrina e muita exigência do Registro Genealógico. Os criadores poderiam tratar de fomentar a raça - que é o grande patrimônio histórico da Bahia e, quiçás, do Nordeste - ao invés de continuarem gastando anos em acirrados debates que não levam ao incremento do criatório nacional. Pelo contrário, levam à sua redução.

Luciano Vilar comandou a raça Mambrina por um longo tempo, mantendo milhares de animais em criação, na região de Jacobina (BA), mas acabou se aborrecendo com a pressão e ignorância dos técnicos de Registro, liquidando a maior criação do Brasil. Um triste exemplo.

Situação - O rebanho estimado em mestiçagem é de 50.000 cabeças. Calcula-se que existam cerca de 3.000 cabeças classificáveis como “puras de origem” (PO), as quais são aptas para receberem um Certificado de Fundação. Depois de reunidos 5.000 animais com Certificado de Fundação, poderá ser homologado um Livro de Registro Genealógico, com alguns dados de desempenho funcional. A situação do rebanho exige atenção.

Padrão da Raça Mambrina


Aspecto Geral - Sempre de grande porte, animais rústicos, com longas e largas orelhas e chifres espiralados. A pelagem admite todas as cores e variações.

Aptidões – Carne, pele e leite.

Cabeça – Grande, forte e larga. Os machos apresentam cabeça em cunha e focinho um pouco comprido, fronte larga. Perfil subconvexo nos machos, admitindo-se o retilíneo nas fêmeas. Orelhas longas, largas, espalmadas, pendentes, caídas sobre a face, ultrapassando o focinho, apresentando uma curva para dentro, e para fora nas extremidades. Admitem-se as orelhas menos longas, ultrapassando o focinho. Chifres nos machos: longos, saindo para os lados em espiral para cima e para trás. Nas fêmeas, os chifres são espiralados e dirigidos para trás. Admite-se a descorna. Olhos salientes, cinzentos, castanhos ou pretos; admitindo-se os azulados.

Pescoço – Musculoso, bem implantado, com ou sem barbela. Nas fêmeas: mais delicado.

Corpo - bem conformado, longo e profundo. Peito profundo e largo. A linha dorso-lombar é reta, o tórax é largo e profundo e o ventre é amplo e arredondado. As ancas e garupas são largas.

Membros - Medianos, fortes e bem aprumados, embora muitos animais apresentem membros longos. Cascos fortes, coloração de acordo com a pelagem.

Úbere - Bem conformado e macio, volumoso e globular. Tetas desenvolvidas e bem conformadas.

Pele - Flexível, média, predominando a cor escura. Mucosas escuras ou mais claras, de acordo com a pelagem.

Pelagem – Todas as variações possíveis. As mais frequentes são a preta, vermelha, amarela, branca e malhada. Os pêlos são lustrosos e de comprimento mediano no tronco; e curtos na cabeça, orelhas e extremidades dos membros.

Defeitos específicos - Cabeça pequena. Perfil côncavo ou ultraconvexo. Orelhas que não ultrapassam o focinho, estreitas e dobradas. Animais geneticamente mochos. Pelagem similar à da raça Toggenburg. Mucosas despigmentadas.

Altura média – Fêmeas: 60- 80 cm . Machos: 70- 90 cm .

Peso médio - Fêmeas: 50- 70 kg . Machos: 70- 90 kg , podendo chegar a mais de 100 kg .

 

Fonte:A Cabra e a Ovelha no Brasil, por Rinaldo dos Santos

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

A Mambrina na Enciclopédia de 1791

 

Encontrei essa foto de uma das páginas da Enciclopédia Real Inglesa de 1791 (London. Royal Encyclopedia. 1791). O primeiro animal da página é um Mambrina ou Bode Sírio.

 Mammalia...Mambrina or Syrian Goat. Rupicapra or C

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Caprinocultura no Brasil: algumas estatísticas e evidências

 

A influência do setor agropecuário na economia brasileira é inquestionável. Levando-se em consideração as séries estatísticas históricas, observa-se que o setor primário tem respondido por volta de 10% de toda a riqueza gerada no Brasil. Quando se computam todos os setores que são impactados, ou seja, quando são consideradas todas as transações que ocorrem ao longo das cadeias produtivas, no que se costuma chamar de agronegócio, historicamente observa-se que em torno de 30% do que é produzido no Brasil tem origem, de alguma forma, na agropecuária.

Segundo dados do Censo Agropecuário Brasileiro de 2006, divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), no Brasil, cerca de 32 milhões de pessoas moram na zona rural, sendo que 47% da população rural brasileira vivem na região Nordeste. Ou seja, cerca de 15 milhões de pessoas vivem na zona rural do semiárido nordestino. A segunda região com maior população rural é a região Sudeste que abriga 6 milhões de pessoas nos seus diversos recantos. É sabido que a renda de um estabelecimento rural no Nordeste gera a metade da renda bruta de um estabelecimento do Sudeste, reforçando a desigualdade e assimetria social e econômica do Brasil.

Diante do cenário de desigualdade e de falta de oportunidade que caracterizam o Brasil, em especial o meio rural, urge a necessidade de se encontrar alternativas viáveis de geração de emprego e renda para as diversas regiões do país. A caprinocultura apresenta-se como uma dessas alternativas que pode ser utilizada para mudar o cenário de pobreza que tem caracterizado a zona rural do Brasil ao longo da história.

A caprinocultura é uma atividade que pode ser explorada em qualquer um dos 5.554 municípios brasileiros. Segundo o Censo Agropecuário de 2006, existem 7.109.052 cabeças de caprinos no Brasil que estão espalhadas por todas as 508 microrregiões brasileiras. Existem 286.553 estabelecimentos que criam caprinos no Brasil, resultando em um número médio de 25 animais por estabelecimento. De outro lado, os 18.008 estabelecimentos que produzem leite de cabra prospectaram em 2006, cerca de 21.275.000 litros de leite, indicando que cada estabelecimento produz 1.181,41 litros por ano. Transformando em produção diária, observa-se que cada propriedade produz, em média, cerca de 3,24 litros de leite de cabra por dia.

Isto posto, pode-se concluir que a caprinocultura é uma atividade predominantemente de pequenos e médios produtores e que pode ser estimulada em todos os municípios brasileiros, do Oiapoque ao Chuí. Logicamente, levando-se em consideração as aptidões naturais inerentes a cada região. Portanto, a criação de caprinos apresenta-se como uma alternativa viável de geração de emprego e renda e como uma ferramenta eficiente para diminuir a concentração de renda no Brasil, em especial no meio rural. Para tal, faz-se necessário que os tomadores de decisões políticas vislumbrem e acreditem nas oportunidades proporcionadas pela atividade.

17/01/2011

Fonte:Embrapa Caprinos e Ovinos

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Mambrina

Aprisco

Caprino da raça Mambrina

Fonte: Aprisco

Raça originária da Síria e Palestina. É também chamada, no Brasil, de "Indiana" ou "Zebu"

A raça Mambrina foi introduzida no país no final do século XIX, por meio da empresa Hagembeck. Alguns desses animais, de longos pêlos e coloração negra, ficaram registrados em fotografias da família Lutterbach.


Os plantéis desta raça surgiram na Bahia na década de 1940, e logo se tornaram o maior patrimônio caprino baiano. A raça conta com dezenas de criadores entusiasmados e centenas de exploradores. Há bons consumidores em São Paulo, em Goiás, no Mato Grosso e em vários estados nordestinos.


Possui cabeça em cunha seca, distinta, forte e larga, com perfil subconvexo. O chanfro é direito na fêmea e ligeiramente bombeado no macho. O lábio superior é, às vezes, proeminente. Os olhos são expressivos, mansos, de cor azul celeste. São geralmente mochos, mas esta característica não é racial; quando possuem chifres, principalmente nos machos, estes são longos, saindo para os lados em espiral, para cima e para trás, enquanto nas fêmeas é espiralado e dirigido para trás, lembrando um pouco os da raça Angorá.


As orelhas são grandes/longas, largas, pendentes, atingindo até 40 cm de comprimento por 10 a 15 cm de largura, espalmadas, ultrapassando o focinho, apresentando uma curva para dentro e para fora da extremidade, com a ponta pregueada e retorcida para fora. O corpo é um pouco mais compacto que na cabra Nubiana, com as costas direitas, as costelas cinturadas, a garupa ampla e tão direita quanto possível.


O ventre é desenvolvido na cabra e o peito é largo e musculoso no bode. Úbere volumoso, de forma globular. Tetas de grossura variável, de preferência fortes. Membros altos, fortes, direitos e secos. A pelagem é variável, negra, castanha, amarelada, cinzenta e suas combinações em malhas. Os pêlos são cerrados e lustrosos, havendo animais tanto de pêlos curtos como compridos. Neste último caso, os pêlos compridos dominam no terço inferior do corpo, sendo curtos os da cabeça, orelhas e extremidades dos membros. No Brasil, os animais de pêlos curtos são preferíveis e evidentemente mais comuns, por serem mais adaptados ao clima.


Seu pelo médio é de 40 kg, na fêmea, e 60 kg no macho. A estatura vai de 70 a 75 cm na cabra e 80 a 90 cm no macho. As mucosas são escuras e a pele é flexível e predominantemente escura.


Esta raça é especializada na produção leiteira, mas tem bom potencial para a produção de peles e de carne. Produz diariamente de 2 a 4 litros de leite com 4% de gordura, com os quais se fabricam, no oriente, queijos e a conhecida manteiga de Alepo. O leite tem bom paladar, pois não possui odor hircino. É uma cabra muito rústica, de grande porte e fácil manejo. Adapta-se sobretudo às regiões agrestes, quentes e secas, como no Nordeste e Centro do Brasil, onde tem prosperado.


Muito prolífica, tem até dois partos por ano, quase sempre de dois cabritos. As melhores parições acontecem  no Brasil Central, na primavera. Seu temperamento é calmo. Os cabritos são sadios, fortes e resistentes, não necessitam de cuidados especiais para se desenvolverem bem. A carne é saborosa e muito apreciada. Em cruzamento com nossos caprinos comuns, dá mestiços maiores e mais leiteiros. É uma das raças mais recomendáveis para uma extensa região do nosso país.


Destinação: Carne, Leite, Pele
Região mais adequada: Nordeste, Centro-oeste e Sudeste brasileiro

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Caprinos do Nordeste: uma visão realista

 

Os primeiros animais domésticos chegaram ao Brasil na época da colonização. Os animais trazidos da Europa não tinham especificação de raça, conceito desconhecido naquela época. Segundo historiadores, tratava-se de animais de pequena estatura e rústicos, para comerem pouco e sobreviverem durante o trajeto marítimo até a América.


Durante anos convivendo com as condições adversas do sertão nordestino, estes animais que aqui se estabeleceram adquiriram características de adaptação e resistência ao calor, essenciais para a sobrevivência. Assim sendo, tais animais formaram diversos grupos com características próprias, isolados geograficamente em seu habitat, dando origem aos ecotipos nordestinos. O desenvolvimento destas raças locais deu-se mais através do isolamento genético e da seleção natural do que pela intervenção do homem.


Desses animais, cinco ecotipos são citados: Moxotó, Marota, Canindé, Gurguéia e Repartida. Dentre esses grupos, talvez o mais tradicional seja a raça Moxotó, originária de Pernambuco, homologada em livro de registro como raça desde 1977. Segundo dados da literatura, são os tipos Repartida e Marota que se encontram em estado mais crítico de preservação. As características principais inerentes aos tipos naturalizados de caprinos são a rusticidade, a prolificidade e a alta qualidade do couro.
Nos últimos cinqüenta anos, o processo de modernização da atividade agropecuária foi fomentado por agencias de desenvolvimento regional que, utilizando enfoques reducionistas da realidade rural, apoiaram vários projetos oficiais visando incentivar de forma sistemática a importação de animais e material genético. Tais aplicações de recursos públicos aceleraram a erosão da biodiversidade caprina do Nordeste brasileiro.


Pesquisa
Pecuaristas que valorizaram a criação tradicional conservaram para o futuro animais ditos naturalizados, termo usado considerado que são descendentes dos tipos trazidos ao País na época da colonização. No mundo científico, grupos liderados pela FAO iniciaram o processo de monitoramento da biodiversidade agropecuária ao constatarem o avanão no processo de erosão genética.


A razão para esse esforço de conservação na Europa é manter a flexibilidade para atender a mudanças de demanda do mercado e do sistema produtivo. No Brasil, a Embrapa Recursos genéticos e Biotecnologia (Brasília - DF) lanãou o que hoje se denomina Rede Nacional de Recursos genéticos (RENARGEN), abraçando e gerenciando vários projetos preexistentes nas Unidades descentralizadas da Unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).


A Embrapa Meio Norte (Teresina - PI) iniciou o primeiro núcleo de conservação do Piauí em 1980, no município de Castelo do Piauí. Nessa base física a Unidade mantém 200 representantes de caprinos Marota, que podem representar o último grande rebanho desae ecotipo do Brasil. Em 2005, mais um núcleo foi incorporado ao patrimônio da Embrapa Meio-Norte. O rebanho Cabra Azul com 48 animais adultos constituíram o núcleo de conservação da Cabra Azul, ecotipo também fortemente ameaçado.


A reserva estratégica de tal patrimônio, repositório de genes inerentes a rusticidade e adaptação, pode garantir a sobrevivência da atividade para os pequenos agricultores familiares. A avaliação do genoma de animais autóctones, pela sua caracterização molecular, fornecerá informação necessária a programas de melhoramento genético no futuro, com grande utilidade para o pequeno e médio produtor rural da região, fornecendo-lhe carne, leite e pele sem a necessidade de grandes investimentos.
Sendo assim, a Embrapa Meio Norte consolida-se como uma importante instituição de pesquisa na conservação de recursos genéticos, principalmente, para a pecuária sustentável do semi-árido.


Atualidades
Hoje, com uma visão mais sistêmica do meio rural do Nordeste, vislumbra-se prejuízos ecológicos e sociais da perda da diversidade de recursos genéticos. Os sistemas de produção tradicionais, ecológicos e no âmbito da agricultura familiar são grandes beneficiários dos recursos genéticos autóctone, agregando valor social e ambiental aos produtos originários dos caprinos naturalizados. A possibilidade de agregar valor ao caprino através de certificações de origem acenam com umfuturo promissor para os ecotipos caprinos do Nordeste.


Curiosamente, observa-se um fluxo contínuo desse patrimônio genético para os rebanhos particulares. Os criadores do Nordeste começam a se mobilizar em associações de raças naturalizadas e algumas feiras e exposições desses animais começam a aparecer no cenário do agronegócio.


O preço de mercado de bons animais naturalizados chega a ser competitivos com o das raças importadas já estabelecidos, como a Anglo-nubiana. Tal mudança pode ser favorável para retirar o recursos genético do perigo de extinção, pois a preservação privatizada “on farm” é uma estratégia de conservação muito eficiente e auto-sustentável.


Entretanto, o sistema de produção tradicional, quase absoluto em algumas áreas com restrições severas de acesso à água e alimentação, embora atingido pela onda de cruzamentos apregoadas por agentes de desenvolvimento, está longe de não depender de recursos genéticos autóctones.


Ao contrário, começa a haver uma deterioração completa de sistemas de produção até então recomendáveis, porém insustentáveis na sua aplicação. Assim, as pesquisas na área de melhoramento genético precisam avançar rapidamente para contornar essa falsa teoria de que a incorporação maciça de recursos genéticos gerariam sistemas produtivos eficientes para o semi-árido.


Estudos avaliando a eficiência (inclusive econômica) dos sistemas de produção sustentáveis, com recursos autóctones melhorados para o semi-árido, devem ser estimulados, como forma de garantir a sustentabilidade da produção e a conservação dos caprinos autóctones para todos.

 

Fonte: Embrapa (05/12/2005)

Autora: Adriana Mello de Araújo